2010/10/12

O défice explicado para quem não tenha ainda percebido

Hoje chegou-nos a notícia que os tratamentos de infertilidade ministrados na Maternidade Alfredo da Costa tinham sido interrompidos. A interrupção resulta de uma circular do Ministério da Saúde que determina a limitação desses tratamentos a um durante este ano, por casal.
Até agora eram ministrados dois tratamentos anualmente. Quem estiver neste momento a aguardar por um segundo tratamento terá de esperar por 2011.
Há, porém, casos em que a interrupção foi ordenada já após o início do segundo tratamento, mesmo em pleno processo de preparação para esse tratamento, ao que consta. Uma "brutalidade", dizem alguns testemunhos que a comunicação social recolheu naquela maternidade. Uma situação que está a provocar revolta. Uma solução tecnicamente "incorrecta e incompreensível", diz uma responsável da D. G. de Saúde, ouvida pela TSF.
A MAC terá assim agido nestes casos por iniciativa própria, pelo que se percebe.
Independentemente das contradições burocráticas e do risco clínico, independentemente do facto de que estão previstos programas para o ano que ministrarão os três tratamentos desde sempre preconizados  (e não apenas os dois que eram actualmente administrados), o que tudo isto vem desvendar perante os cidadãos é o caos, o grau de demência e de insensibilidade que reinam na administração pública portuguesa. "Até hoje nem sequer um telefonema da MAC com nenhum tipo de apoio, quando sabem que isto psicologicamente afecta muito," diz uma das mulheres ouvidas pela TSF.
Em Abril de 2009, o Governo determinou o "apoio aos casais que precisassem de tratamentos de fertilidade, aumentando a comparticipação dos medicamentos necessários de 37 para 69 por cento e o encaminhamento dos casais em lista de espera no público para clínicas privadas. A medida foi uma das grandes apostas do executivo Sócrates para a saúde em 2009," como nota o Público. Agora o défice manda fechar a loja e, mais papista que o Papa, a MAC revelando a sensibilidade de um pneu e tripudiando sobre os mais elementares princípios do comportamento humano, administra sem hesitar um preceito "incorrecto", segundo da DGS, revelando um desvelo que merecerá certamente nota "Excelente" na avaliação.
Aonde chegou a cegueira, a insensatez, o desnorte, o egoismo e a falta de solidariedade das instituições públicas neste País. Se é assim com  a saúde reprodutiva, se é assim com a fragilidade da maternidade, é fácil imaginar o que se passará noutros sectores da vida portuguesa.

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